10. Vazio e Ausência

 

As manhãs estão azedas.

Os mundos vagos parecem esvaziarem minha vida. Olho, subtamente para meu interior. Encontro um sorriso lacrimoso. É a ausência de uma presença que me invade.Isso mesmo. Minha existência está plena de ausência. Ele, que fez com que a vida insurgisse em mim, se foi. E deixou-me sozinho. Eu e outros estamos aqui, solitários, peregrinando pela terra. Deus é mesmo misterioso: põe-nos num lugar de solidão para nos saciarmos Dele. Somente Dele.

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Nas tardes secas...

A poesia é a única fonte que me sacia. Dos vários gêneros poéticos, gosto da melodia salmística. Daquela música poética que incita a imaginação. Ela ameniza a solidão e alimenta o vazio. Quando não leio Camus ou Neruda, ou mesmo a Palavra poderosa que revoluciona a existência, o vazio se esvai. Mas, o que fazer quando se está acostumando à solidão? Não se trata de uma solidão incômoda. Pelo contrário: ela alimenta a existência. Quem não se sentiu vazio um dia, que profira a última sentença! Talvez seja a ânsia de estar só que me leva a crer Nele, que se foi. Mas deixou em mim uma falta. Uma ausência presente. É Deus que falta em mim. Mas, indubitavelemnte, ele está em mim, sem permanecer comigo. Algo contraditório, deveras! Mas que não é contraditório nessa breve existência?

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Nas noites frias...

Teço, pois, meus dias com os fios da espera. A vida é mesmo um grande tecer.  Nela, com as experiências, vamos tecendo fatos e fatos. Nos cansamos, nos decepcionamos. De vez em quando ficamos felizes. E a felicidade vem exatamente quando os fios de nossa tecitura ficam frágeis. Mas nessa hora, o vazio nos preenche. A fragilidade denuncia a fraqueza de nossos fios.Quando isso acontece, as manhãs se adoçam, e os mundos desaparecem. Exceto, o mundo pessoal: aquele que tecemos à nossa imagem e semelhança.