8. Vinte e Seis Anos

 

Em 26 anos de vida aprendi muitas coisas. Parece um século de primaveras. Foram caminhos difíceis, alguns deles tenebrosos. Atravessei as noites escuras da vida. Senti e vivi grandes perdas.Primeiro minha mãe, depois o pai. Em seguida as trevas da morte arrastaram-me os amigos.  

Nos anos vividos, algumas coisas não deram certo.Tentei consertar ocasiões equívocas, reencontrar pessoas desencontradas, sorrir para os que se entristeceram comigo. N’algumas vezes acertei; n’outras me desiludi.  Assim é e continua a ser a vida: misteriosa e incerta.

O saldo negativo, de duas décadas e meia, não me tirou o encanto pela vida. Ela me soa como um hino de amor, uma canção de ninar, daquelas que a mãe canta para a criança frágil.  Isso mesmo. Os 26 anos não me endureceram o coração nem dilataram minha alegria. Ao contrário: vivo como uma criança.


A cada dia descubro coisas novas, brinco com velhos e recentes brinquedos. Tudo me parece muito simples e belo, apesar da complexidade...
 

Mas devo agradecer à Vida pelo dom da vida. Não me comprazo com os deslizes.Mas utilizo-os como degraus para aprender da Vida a lição mais essencial: a de amar.  Isso mesmo. Se pudesse resumir todos os dias de minha existência. Numa palavra, diria: amar. Mas não se trata de qualquer amor quero amar num ambiente poético. O amor que amei e amo durante as paisagens de minha existência sãouma maneira poética de dizer sim a ela, à vida: misteriosa e incerta.