Ser compadecido
Mistério não se mede,
Nem se fala. Só silêncio.
Cala a voz que insiste e fala,
Grita um aberrante lamento.
Prisão da existência:
O corpo clama por transcendência.
De si, de Deus, do firmamento.
O corpo que superar a si.
Ir mais longe, navegar outros mares, partir.
Só em pensar, voa
Na direção do mistério.
Mas o pensar esbarra na solidão, na surdez.
A voz cala, o os lábios um canto entoa:
“como o mistério é infantil, não é sério”!
É alegria fortuita, fluida rapidez,
O canto também silencia, como a voz
Por causa do imenso vazio
O mistério penetra meu corpo
Pensamento e voz, ficam saídos:
Foram-se o grito, a existência nos mundos traídos.
O corpo morre. A alma escorre e o mistério reaparece:
Alegre, como a criança, pasmo, com todo ser compadecido!